A Estagiária – 3

Se passaram alguns dias e a única ligação que recebi foi da primeira empresa que fiz a entrevista, apenas para me avisar que a vaga foi preenchida por outra pessoa que se encaixava melhor no perfil deles, mas que se qualquer outra coisa surgisse iriam me ligar. Eu fiquei agradecida, já que é raro algo assim, eles sempre dizem que vão ligar “até o fim da semana, se você conseguir ou não” e é claro que não ligam nem até o fim da semana nem se você não conseguiu, a prova disso são todos os retornos que nunca obtive das outras empresas.
Depois de passar três dias em casa vivendo de café, cobertor, pijama e um pouco de pesquisa no notebook, eu olhei para data e me surpreendi: era aniversário da Tina, garota que se formou comigo e que também está morando aqui. Chequei se ainda tinha o número dela e liguei para dar os parabéns.
– Feliz aniversário, Tina Belcher! – brinquei como sempre fazia já que ela realmente me lembrava a Tina de Bob’s Burguer: o corte de cabelo, os óculos, o tamanho e às vezes, até a personalidade.
Ouvi Tina rir do outro lado.
– Estou surpresa que você lembrou, não te vejo desde a formatura, Hanna! Como você tá?
– Procrastinando entre entrevistas de emprego – confessei com um suspiro acompanhado de uma leve risada autodepreciativa.
– Conheço muito bem essa rotina – ela riu da mesma forma. – Mas hoje você vai dar uma pausa nessa vida e vai na minha festa hoje, tá certo?
– Hoje? – olhei novamente pra data no notebook. – Mas hoje é terça!
– Hanna, querida, somos adultas formadas que se fazem de responsáveis, se a gente quiser, a gente faz festa de segunda a sexta.
Gargalhei alto no “que se fazem de responsáveis” e respondi:
– Ok, eu realmente preciso usar outra coisa além do meu pijama de Hora da Aventura.
– Você realmente precisa parar de assistir desenhos infantis – falou ela em tom preocupado.
– Tá, Tina – rolei os olhos, mas com um sorriso nos lábios. – Onde e que horas? O que preciso levar?
– Vou te enviar a localização por mensagem, mas começa as três, e tu pode levar bebidas – Tina pausou. – Muitas bebidas.
As três? Já passaram das uma e ainda nem almocei. Encolhi os ombros.
– Beleza, estarei lá.
– Não me decepcione! – disse antes de desligar.
Olhei para meu pijama.
– Certo, Fin, está na hora de eu ter um pouco de aventura.

Preparei uma salada de frango (com as instruções deixadas pela minha mãe) e esquentei um molho branco que estava na minha geladeira para o almoço. Comi sem muita pressa e deixei a bagunça para arrumar quando chegasse em casa. Precisava me arrumar agora.
Ao sair do banho, me enrolei numa toalha rosa bebê e abri meu guarda roupa. Tudo parecia tão usado e sem graça. Escolhi uma saia branca de cós alto, uma blusinha azul escura e coloquei botas pretas nos pés. Não estou indo pro tapete vermelho mesmo.
Coloquei minha maquiagem “pro dia” e algumas joias simples só pra não ficar muito apagada e estava pronta para partir.
A bebida! Preciso levar alguma coisa. Corri para minha geladeira e inspecionei. Eu tinha menos da metade de um vinho, um uísque quase cheio e apenas um dedo de vodka. 
Mordi lábios, melhor deixar isso aqui e ir comprar outra coisa.
Coloquei a caixinha de Heineken, a garrafa de vodka e outra de energético no banco passageiro, fechei a porta, dei a volta e entrei no meu lado. Peguei meu celular para pegar a mensagem da localização e colocar no meu GPS. Sai do estacionamento do mercado enquanto ele criava a rota, logo dizendo que chegaria em 18 minutos. Olhei no relógio: 15:47.
Com as bebidas em mão e com certa dificuldade, eu toquei o interfone. Em menos de um minuto uma Tina bem alegre surgiu do portão.
– Feliz aniversário! – falei mostrando o que eu carregava quase como um bebê nos braços.
Tina pegou as garrafas de vodka e energético para me ajudar a carregar e me guiou para dentro. Antes de entrar eu já ouvia o som da música animada e de muitas pessoas tagarelando.
 A festa estava acontecendo nos fundos, onde tinha uma piscina, uma mesa cheia de coisas, incluindo: copos, latinhas, garrafas, celulares e alguns petiscos. Também tinha uma mesa de sinuca, outra onde alguma pessoas jogavam baralhos e um freezer do lado de uma pia também cheia de latinhas. 
Guardamos o que eu trouxe no freezer e comecei a procurar pessoas que eu conhecia. 
Só reconheci 1/3 de quem estava lá, o resto eram amigos, familiares de Tina e com certeza algumas pessoas que ela também não conhecia.
Logo me aproximei de alguns velhos colegas de faculdade, depois de pegar uma Heineken para mim, e começamos a conversar sobre a vida pós formatura.
– Eu to bem decepcionada que não me avisaram que ia ter piscina – comentei fazendo um biquinho, após uma hora de conversa. – teria trazido meu biquíni.
– Sério? – Matt que era, honestamente, o melhor aluno da nossa turma, me olhou com um sorriso maquiavélico e sem responder eu já comecei a correr, porém, não fui muito longe e ele conseguiu me pegar pela cintura.
– Matt, você é um garoto bom, não precisa disso, vamos conversar – eu dizia enquanto ele já me carregava. – nós não estamos mais na universidade, somos adultos e… – E cai na água.
Meu corpo não afundou muito, e enquanto eu emergia já tentava abaixar minha saia e a prender entre as pernas. Minha cabeça surgiu para a superfície, meu cabelo grudado no rosto e água escorrendo por todos os lados. Passei a mão no rosto, ciente que isso tinha borrado meu lápis.
Sai da piscina, já procurando por Matt. Quando o avistei me apressei em sua direção. Não foi fácil porque além de Matt ter pernas mais longas que as minhas, agora meu corpo estava mais pesado e por estar molhada corria mais risco de cair.
Matt não estava muito longe agora, mesmo que não estivesse fugindo de mim a muito tempo, quando ouço gritarem meu nome.
– Hanna! – parei e me virei para ver Tina acenando para mim, do outro lado da piscina. – seu celular tá tocando! – disse ela levantado o mesmo para me mostrar.
Apressei o passo e cheguei a ela.
– Obrigada – falei pegando o celular de suas mãos, olhando pra tela.
Não conhecia aquele número.
Olhei em volta e achei a porta do banheiro dos fundos, logo entrando esperando que isso abafasse o barulho que acontecia lá fora.
– Alo? – atendi tentando não molhar muito meu celular.
Ao ficar assim, parada, notei que eu já estava um tanto tonta.
– Boa tarde, falo com Srta. Preston? – a voz masculina levemente familiar falou.

– A mesma.


Ai papai.. Será?

Fiquem ligados porque quinta tem mais!

Besin, besin

Giulia

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