Nosso ritmo – 1

-A Stella é uma boa bebedeira, a Stella é uma boa bebedeira.. E nem um barmen pode recusar! 
As meninas caíram na gargalhada depois de entoarem a canção animando a viagem pra Boca Raton, Flórida. O ônibus seguia viagem e aposto que o pobre-coitado do motorista não aguentava mais ouvir essas garotas cantando. Ele devia pensar:
“ninguém avisou a elas que elas só dançam? Nao cantam?”.
Joguei minha cabeça pra trás, rindo e brindando com minha garrafa da Starbucks -onde só tinha vodca pura -. É como diz a música, “a Stella é uma boa bebedeira” ué! 
Na verdade, eu só precisava de umas curtas férias mesmo. Depois de campeonatos acirrados de dança, apresentações, abrindo shows bem grandes (One Direction, Carly Rae e até Justin Bieber) eu e minhas meninas, só queriamos um lugar pra colocarmos nossas cadeiras de praia, e descansar os sneackers. Vida de dançarina/coreógrafa, nao é fácil nao, ok? 
-Ok, garotas, a farra acabou! Já vão dar 4h da manhã e o Sr. Trevor -A treinadora se referia ao motorista, que eu ainda desconfiava que era surdo -Precisa de um descanso, se é que vocês compreendem!
As meninas soltaram um “ah!” agudo, mas logo todas se sentaram em seus bancos e puxaram seus cobertores. 
Peguei meu celular, respondi umas pessoas nas minhas redes sociais, avisei a vovó que por volta das 8 da manhã eu chegaria em Boca Raton e avisaria a ela, e logo encostei minha cabeça no banco, deixando a vodca tomar conta não só da minha cabeça, mas de todo meu cansaço pertinente. 

-Bom dia, flor do dia! -Treinadora Trayce me acordava, puxando as cortinas de minha janela, no onibus. 
-Nao faça isso. -Sussurrei, mal humorada. -Já chegamos? 
-Há cerca de uns -ela olhou no relógio, franzindo o cenho -10 minutos. 
-E onde estao as meninas? 
-Despejando o alcool de ontem. 
Franzi o cenho, esfregando o rosto e me levantando do banco. Olhei pra fora do onibus e estavam todas sentadas na grama da casa de praia onde ficaríamos vomitando ou deitadas, suspirando, passando muito mal como eu já imaginava. 
-Ah, que beleza. 
-É. Era o que eu já esperava. Quer um saquinho também? -Neguei com a cabeça, fazendo cara feia e saindo logo daquele onibus. 
Viajar em pé, cantando e zoando -e bebendo -com as amigas já nao era bom, agora imagine quase 3 horas de viagem, no balanço daquela coisa enorme tentando dormir. Tentando. 
Peguei minhas bolsas na mala com ajuda de Sr. Trevor e fui em direção a casa. 
-Voces nao vao passar o dia estiradas nessa grama, né? 
-É proibido? -Minha melhor amiga, Jane, perguntou jogando seu braço na cara tapando-o contra o sol. 
-Vou ter que pagar? Eu pago pela grama, nao tem problema. -Brianna falou, limpando a boca. 
-É, eu trago até uns enfeites pra colocar no natal. -Ariel disse, se sentando aos poucos. 
-Eu nao vou dar nada, já trabalho pra você mesmo. -Rose resmungou. 
-Deixa elas comigo, Stella. Entre lá, e comece logo a arrumar suas coisas! Voce nao pode perder um minuto dessas férias.
Assenti, entrando na casa com minhas coisas. Afinal, a treinadora só havia vindo conosco para isso: ela sabia que nós nao teriamos limites aqui. Jane, Brianna, Ariel e Rose, eram mais bebedeiras que eu. Elas entornavam mesmo, e aqui em Boca Raton, onde era o refúgio dos famosos e encontro dos desesperados, Trayce de inicio conhecia as garotas dela. E do que elas eram capaz. 
Os quartos eram grandes, assim daria pra 2 ficarem em cada um, mas é claro que Jane ficaria comigo. Ela me ajudava na maioria das coreografias, mas como nao quis seguir carreira de coreógrafa, ela apenas ficou como minha dançarina, como as outras, mas nossa amizade continuou a mesma -ainda bem- .
Coloquei minhas malas no quarto, tirei meu biquini e meu short. Fui logo ao banheiro, tomei um longo banho -aquele cheiro de Vodca tinha que sair de mim, pelo amor de Deus! -coloquei o short e fiquei apenas com a parte de cima do biquini. Aqui em Boca Raton é assim: quanto menos roupa, menos você soa e mais voce aproveita o dia. 
-Mas já? -Trayce perguntou assim que eu saí do quarto. 
-É. Vou dar uma caminhada e depois vou no centro tomar um café, ok? 
-Certo. Vou dar um banho nessas meninas e depois a gente vai tomar um café. Nao volte tarde, ok? 
-Claro. 
Boca Raton, como era cidade pequena, dava pra fazer tudo a pé- ainda bem, porque em consequencia ao ultimo premio ganho, eu e as meninas nos juntamos em um bar, e eu bati meu Prisma novinho – sem carro por um bom tempo-. E nao fora porque o conserto era caro, ou coisa do genero, mas sim, porque minha avó simplesmente nao quer que eu dirija até que eu “controle minha sede por bebida”. 
Uma garota de 19 anos na cara tem que controlar a sede por bebida agora, ve se pode. 
Ri comigo mesma enquanto dava uma volta pela praia e deixava o vento bater em meus cabelos e ir secando-o aos poucos. 
Reparei que mais a frente vi um grupo de rapazes correndo, em minha direção, mas só que um pouco mais de diagonal, e eram todos no estereótipo da Flórida: uns morenos e um loirinho, malhados, e de olhos claros. 
Mas o loirinho me era reconhecível. Quando foquei meus olhos e fui diminuindo meu ritmo, meu corpo ficou completamente imóvel. Eu parei, e fiquei mesmo olhando, enquanto eles se aproximavam. Era Austin Butler. Em carne, e muita gostosura. O problema todo, fora que ele me vira também, e então, se desviou dos outros garotos e veio em minha direção. 
-Amy? -Ele gritou quando estava um pouco longe. 
Eu arregalei meus olhos e suspirei fundo, tentando controlar minha respiração. Meu estomago foi embrulhando, meus olhos perdendo o foco e eu nao sabia se voltava a correr, corria pro mar e fingia me afogar, ou então fingia que nao estava reconhecendo ele e falaria em outra lingua isso. 
-HE-Ei, Amy! 
Droga.
-Caramba, quanto tempo. -Austin disse assim que parou de frente a mim, me olhando de cima a baixo. 
Tradução: Você deixou de ser aquela magrela esquisita e está bem gostosa, ein? 
-E então.. como vai? As competições? Vi você outro dia na TV.. 

E então, quanto mais ele falava, parecia que algo ia fervilhando em meu estomago e eu nao aguentei. 
Me curvei sobre seus -e meus- pés, e despejei “todo o alcool da noite passada”. 

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