Capítulo 4 – “Ah, meu irmão? Então, ele é um machista filho da puta, bate em mulher de vez em quando.. mas no fundo? É, até que ele é legal!”
Astrid
Depois de duas horas de treino árduo, voltei pro quarto e tomei uma puta chuveirada gelada.
Ao sair do banheiro, enrolada na toalha, encontrei Tina e Beckie já acordadas, com maior cara de zumbi.
-Perdeu o treino, Beckie! Foi irado! – falei, animada.
-Que bom que gostou, Trid. Mas a ressaca não me deixou acordar.
-E como foi a festa ontem, huh?
-Foi demais, amiga. – Tina disse baixinho. –Mas fala baixo, tá? Por favor. O pessoal daqui é bem gente boa. Eles pediram pra hoje no almoço a gente se reunir, só os calouros de comunicação, pra se conhecer melhor e tals.
-Que ótimo! Preciso mesmo conhecer outros caras.
-Como assim ‘outros’? – As duas me olharam com um olhar de interrogação.
-Ah. Ontem entraram dois caras aqui bêbados, na verdade, só um estava bêbado. Ele meio que invadiu o dormitório. Aí ajudei o amigo dele, Theo, que não estava bêbado, a tira-lo daqui. Mas conversa vai, conversa vem.. descobri que o cara é maior machista.
As duas reviraram os olhos.
-Que merda! E ele era bonito? – Beckie perguntou.
-Sim. É. – fiz sinal de choro. – a irmã dele, Dalia, está no time de líder de torcida. E ela é bem legal. Ela disse que ele teve problemas no passado, mas que é maneiro. Não é um babaca por completo.
-Claro, né, Astrid, é a irmã do cara! Ela não vai te dizer “ah, meu irmão? Então, ele é um machista filho da puta, bate em mulher de vez em quando.. mas no fundo? É, até que ele é legal!”
Rimos.
(Chorei por dentro).
Vai ver ele só fez um comentário –bem infeliz-, na hora errada. Eu sou sempre a que dá segundas chances, então.. por que não, né?
-Tá, que seja. Acho melhor vocês trocarem de roupa e se arrumarem logo, nossa aula começa uma da tarde.
-Eu odeio nossa agenda, já falei isso? – Tina disse, pegando sua toalha e indo pro banheiro.
Nossos horários estavam bem misturados. Dias com aulas a tarde, dia com aula de manha até o horário do almoço, dia com horário a noite.. E pelo visto, isso era bem normal.
O jeito agora era se adaptar, acabou a moleza, acabou o colégio.
Agora que minha vida começaria de verdade.
E como eu ainda estou indo pro primeiro dia de aula, não é muito legal eu ficar pensando em garoto. Até porque, essa faculdade me dá muitas opções.. melhores.
Só que o destino não estava muito a meu favor.
Na minha segunda turma, de 3h30, lá estava, Theo e seus três amigos sentados no fundo.
Será que eles fazem jornalismo, também?
Puta merda.
Sentei na frente – bem longe deles- e passei a aula toda virada pra frente, fingindo que nem estavam lá trás.
Depois que o professor passou a chamada, assinei meu nome e tentei sair de fininho, mas o zíper da minha bolsa emperrou e eu não conseguia abrir para guardar meu caderno e estojo.
-Precisa de ajuda? – olhei pra cima e vi Theo parado ao meu lado, se oferecendo.
-Não. – eu disse, teimosa, é claro.
Continuei empregando força e tentando, mas nada do zíper ir nem pra frente, nem pra trás.
Suspirei.
-Sim.
Entreguei minha bolsa a ele, e era só questão de jeito mesmo, em segundos ele abriu a bolsa.
-Trabalho braçal é coisa de homem mesmo. – ele tinha que soltar uma dessas, não é mesmo?
Puxei minha bolsa de suas mãos, joguei tudo ali dentro de qualquer maneira e saí da sala puta.
-Espera, Astrid! Eu tava brincando! Eu juro que tava brincando! – veio correndo e gritando atrás de mim.
Infelizmente ele me alcançou e segurou meu braço.
-Foi mal, saiu antes que eu pudesse controlar.
-É, é melhor você começar a segurar essa sua língua.
Com o olhar de malícia que ele me lançou, pude imaginar o que ele pensou naquela hora. Parte de mim tremeu de vontade. A outra, revirou os olhos com nojo.
-Acho que começamos com o pé errado.
-Quantas vezes mais a gente vai precisar se reconhecer?
-Quantas você quiser. Mas saiba que pra mim, é um prazer. – sorriu.
Mudei o peso do corpo de um pé pro outro, demonstrando impaciência.
-Certo. Voce tá ocupada agora, nesse intervalo? Eu te pago um café, ou não sei o que você prefere..- coçou a cabeça, meio sem graça e sem saber o que dizer.
-Pode ser. Rápido, ok? – falei e continuei andando rápido, logo ele achou seu ritmo andando ao meu lado.